Mente Marginal SoundCast #1

agosto 9, 2010

Primeira tentativa de gravar um podcast, e saiu isso aí. Sei lá.

#1 – Audrey Horne – Blackhearted Visions [álbum: No Hay Banda]

#2 – Nat King Cole – Brazilian Love [álbum: Re: Generations]

#3 – Drive-By Truckers – Too Much Sex, Too Little Jesus [álbum: Pizza Deliverance]

#4 – Dan Tyminski – Man of Constant Sorrow [álbum: O Brother, Where Art Thou? Original Score]

Pra baixar, é só clicar no botãozinho da flecha pra baixo no lado direito do player.

uma tarde vazia

julho 30, 2010

Times Square.

Compras. Descontos. Liquidações. Queimas de estoque. Parcelamentos. Marcas. Grifes.

Fuck that shit.

Resolvo ir para os fundos do Brooklyn, mais precisamente para Coney Island.

Não há nada, e quase ninguém. Consigo escutar as gaivotas voando, o barulho da lona batendo nas grades de metal, e os alto-falantes tocando música latina, por entre barracas de tiro ao alvo, pescaria, e outros, todas fechadas. Cenário perfeito para qualquer filme de George A. Romero¹.

Mas não. Há apenas criaturas vivas, seguindo suas vidas.

Peões sem futuro, mendigos, viciados, mafiosos. Comércio fechado. Um parque de diversões deserto.

Sento próximo à beirada da praia. E nem a natureza vive. Me encosto em um coqueiro falso, feito de plástico e papel machê, ou algo parecido. Acendo um cigarro, e a fumaça que sai pelo ar é a única coisa que se move, além do mar.

Passam-se cerca de dez minutos até eu perceber que há salva-vidas por toda a extensão da praia. De cem em cem metros.

Eles estão como eu, observando o horizonte vazio. Não há quem socorrer, nem observar. Nem mesmo o sol deu as caras hoje.

Enfim, começa a garoar.

E então, levanto-me com saudade da minha terra.

¹George A. Romero é o mais lendário e aclamado realizador de filmes de zumbis (considerados um gênero próprio pelos fãs nos EUA), com títulos como “A Noite dos Mortos Vivos“, “Despertar dos Mortos” e “Dia dos Mortos” no seu currículo de escritor/realizador.

one night with travis bickle

maio 27, 2010

Já é madrugada em São Paulo. Estou de saco cheio e preciso sair de casa, abstinência de cerveja.

Dirijo-me a um bar onde vai rolar um bom jazz. Acontece que ao contrário de como é nos EUA, esses clubes de jazz paulistas são para a burguesia, e não para os fodidos. Então, me vejo obrigado a beber umas cervejas enquanto luto para não pedir algo para comer. Aqueles preços me ofendiam.

Quando a banda dá uma pausa, eu aproveito para conversar com seu baterista. Pergunto o que eles ainda têm para tocar, e vejo que nem ele sabe. O set-list apenas flui, tocam o que der na telha e que se foda. Quem traz a inspiração é a própria noite.

Passo mais algumas horas discutindo com um camarada sobre como o mundo estagnou de certa maneira a partir dos anos 2000. Somos uma geração de remakes, de releituras, de reciclagem. Nada de novo surge mais. Lady GaGa? Madonna. Tarantino? Russ Meyer. Stephen King? H.P Lovecraft.

Foda-se os avanços do entretenimento. Cinema 3-D, videogames hiperrealistas, iPhone, essas porras de nada me interessam. Só me dão medo.

Enfim, papo de boteco.

Saímos do bar e parece que houve um acidente de carro bem em frente à entrada do lugar. As viaturas de polícia já cercam o lugar e os tiras conversam com as vítimas, ou quem sabe, culpados.

A madrugada paulistana é para os fodidos. Bêbados, putas, cafetões, junkies, loucos. Ela abriga todo o tipo deles. São apenas sombras no escuro, que somem durante o dia.

E o que eu ainda não sei é se sou um deles.

old school contemporâneo

maio 10, 2010

Era uma quinta-feira. Estava sentando numa mesa qualquer no Bar Brahma, assistindo à performance dos Demônios da Garoa, quando por algum instante me desliguei completamente daquele ambiente.

À noite, ouvindo aquele samba velha guarda, estando na região da República, tudo isso fez com que por algum motivo, eu me sentisse muito bem.

Naquela noite me esqueci de todos os problemas com os quais nós vivemos, da necessidade de eu arranjar um emprego, de tudo. Tudo, exceto o preço da cerveja, que era razoavelmente caro, uma vez que o preço do show tinha sido de cinquenta e cinco pratas, preço injustificável para uma banda paulistana. – Porra, já vi bandas suecas por preços menores.

Mas isso não estragava a noite.

Era durante a escuridão que o centro velho de SP se mostrava como ele realmente é, lindo. Fico chateado com o fato de que muitas pessoas (e talvez eu mesmo) que me cercam vivem num mundo onde só existem lugares como a Vila Madalena, Moema ou Itaim; enquanto nem fazem idéia do quanto o Centro Velho é bonito. Infelizmente, durante o dia não é a mesma coisa e tudo o que você vê é o caos urbano e a marginalidade.

Quem sabe um dia nossa cidade volte a ser como um dia ela já foi. E, provavelmente, não viverei o suficiente para vê-lo.

Enquanto isso, ouço o velho som da cidade e mato a saudade de um tempo que eu não vivi.

*texto de 2008, com pequenas alterações.

Junkie Days Ahead

março 15, 2010

Ando me sentindo um personagem criado por Irvine Welsh.

Venho sofrendo com pequenas alucinações, se é que posso chamá-las assim, como por exemplo, pavor ao vento. Basta um leve vendaval começar, que eu já começo a ficar tenso, me falta ar, e me sinto horrível.

Outro dia desses estava me dirigindo ao meu carro, quando entro nele, e ligo o motor, já de noite, começo a achar que o céu está mais escuro do que o comum, e então o suor começa a cair, e eu achando que algo está errado.

Uns dias depois, fui parar em um churrasco um tanto freak, cheio de pessoas estranhas, cerveja e trilha sonora variando de cyberpunk até Smashing Pumpkins. Não estava muito afim de socializar com o resto dos cidadãos, e não foi nada surpreendente eu ter como principal companhia a cerveja. Tive que ficar ligeiro, havia Brahmas e Itaipavas no freezer, bebi a maior quantidade de Brahma possível, antes que só sobrasse mijo.

Não entendi mais porra nenhuma do que aconteceu naquele dia. Gente que eu achei que fossem veado pegando mulher, minha amiga acompanhada pegando outros caras na frente do próprio camarada, e eu acabei ficando com uma lésbica, sem nem perceber.

Acabei abrindo os olhos e vendo o que diabos eu estava fazendo, afastei-a, e então fui embora.

Precisava sair daquele local, já estava ficando bizarro demais.

No dia seguinte eu acordo com um telefonema inesperado, alguém que eu não via há muito tempo quer marcar uma bebedeira por aí, e me diz também que tem boas notícias.

Horas mais tarde descubro que possivelmente serei colunista de um blog. Parece que vou escrever sobre cinema, e para isso, verei filmes em sessões fechadas e de graça. Excelente. Comemoro com um copão de cerveja, uma Paulaner, e algumas Bohemias, graças ao mal gosto de alguns presentes.

Enfim, amanhã é segunda-feira. Prometi a uma amiga que não iria mais beber às segundas, nem sei por que aceitei isso. Vivo concordando com coisas que só me prejudicam, preciso ficar mais atento.

madrugada paulista

outubro 19, 2009

São 5 horas da manhã de um domingo, estou na rua pensando no que fazer depois de uma longa noite. Resolvo parar no Pedaço da Pizza da Rua Augusta, mas para minha infelicidade eles já estavam quase sem pizzas, só tinham uns dois sabores escrotos dos quais eu já nem me lembro mais.

Paro num outro restaurante, este outro é mexicano. A culinária chicana nunca me interessou muito, mas decidi comprar um taco de carne com barbecue e acabei gostando. Só haviam eu e mais um casal por lá aquela hora, e então comecei a pensar no que levava aquela loja a ficar aberta 24 horas por dia, sendo que cada taco custa cerca de 3,20 pratas, e 20 pratos por madrugada não pagariam aluguel algum.

Pego o metrô e sigo até a Imigrantes, que agora se chama Santos-Imigrantes em homenagem a esse time patético do litoral. É bastante desagradável ter que passar por uma foto gigantesca do Rei Pelé todos os dias da sua vida, principalmente porque tudo o que me vem à mente quando vejo essa figura são pílulas azuis e a Xuxa, o que é bastante deprimente.

Do metrô até meu lar são mais vinte minutos a pé, ou sete (ou menos) de ônibus, porém quando se trata de uma manhã de domingo, é provável que eu crie raízes esperando algum deles passar, sem contar que existe a possibilidade de por eu ser o único no ponto, o motorista ignorar minha pobre existência.

A Avenida Ricardo Jaffet não é um dos lugares mais agradáveis para se passear sozinho, principalmente numa hora dessas. Para melhorar minha situação, estou sem óculos, o que faz com que  qualquer coisa com mais de 2 metros à minha frente seja um mistério para mim. Arbustos e postes se tornam pessoas, sacolas de lixo se tornam pessoas agachadas, e isso tudo mexe de certa forma com minha imaginação. O vento chacoalha as plantas, os sacos plásticos voam para lá e cá, os cães de guarda latem e você acaba se sentindo em algum filme do Hitchcock ou mesmo do George A. Romero, prestes a ser atacado por alguém ou por qualquer coisa.

Quase sempre é assim, e (in)felizmente nunca diferente aconteceu, mas essa é a vida.

o manifesto do desempregado

setembro 10, 2009

A cada dia que passa, tenho menos amigos desempregados, e todos eles me questionam sobre quando é que finalmente eu vou me mexer para arranjar um emprego, e por fim, eles sempre ouvem a mesma resposta: – Não sei.

A verdade é que eu me considero um excelente desempregado, e talvez você queira saber o que me torna um inútil útil. Pois bem, todos os dias eu busco aprender e agregar algo novo à minha simples vida, desde tocar um instrumento musical, até exercitar meu corpo, e ao contrário de muitos que passam por tais processos de aprendizado, eu os faço por prazer, como uma forma de celebrar essa vida que alguém me deu.

Conheço algumas pessoas que também levam uma rotina parecida com o minha, porém quando analisamos de perto, vemos a diferença na natureza de nossos atos. Por exemplo, Rafael não aprende a cozinhar porque gosta, e sim porque um dia vai morar sozinho e terá de se virar; Vitor não faz exercícios porque curte, ele quer é estar mais apresentável para as meninas; ou então o caso de Natália, que não toca violão porque um dia acordou com esse desejo, foi sua mãe que a obrigou a fazer algum curso na infância.

Aliás, até existem pessoas que vivem como eu, e ainda recebem por isso! Eis que então aparece alguém com a frase: “Poxa, é possível trabalhar com aquilo que você gosta”. Só que este sempre se esquece que estamos no século XXI, onde a maior parte dos empregadores exige um diploma e então, usa filtros em suas seleções que fazem com que os perfis que não se encaixem nos seus pré-requisitos sejam sumariamente descartados sem chance “daquela pensada no seu caso”.

Logo, muito me arrependo do infeliz instante em que eu marquei a opção “Publicidade e Marketing” na folha de inscrição para o vestibular. Se ao menos eu estivesse em Donnie Darko, quem sabe eu poderia mudar isso, mas agora é tarde. Mensalidades existem, e o tempo passa.

corra que a polícia vem aí!

agosto 15, 2009

Estou num boteco jogando sinuca e tomando minha cerveja, nada mais usual. Dois amigos meus resolvem ir fumar um baseado em algum lugar do bairro, eu não me importo, tudo o que eu quero é ganhar a partida. Estou jogando contra um estudante de música da USP, que eu havia visto apenas uma vez na vida, naquele mesmo bar, e contra outro cara perdido no fim da tarde paulistana.

Todos na mesa jogam razoavelmente bem, mas uma onda de azar faz com que todos nós errássemos a mesma bola, até que a sorte decidiu fazer justiça e então o primeiro que havia errado, marcou. Fim de jogo. Encaro a derrota, e iniciamos uma nova partida.

Tranqüilamente eu passo o giz em meu taco, e quando eu resolvo dar uma olhada no movimento da rua, percebo duas viaturas da polícia e dois meliantes sendo enquadrados. Mais uma cerveja, e uma espremida de olhos.

– Porra, são meus amigos. – digo para aqueles que estão no bar. – Rodaram.

Não faço a menor idéia do que fazer, e então resolvo continuar a partida, afinal é inaceitável perder duas vezes seguidas.

Passam-se meia hora, vou ao banheiro, e quando eu volto, meus dois camaradas estão de volta ao bar. Perplexo, pergunto o que aconteceu.

– Os PMs me extorquiram, cara. Levaram quarenta pratas. – disse.

Não liguei, comigo já aconteceu pior e continuei a escutar o que eles tinham a dizer.

– Cara, denunciaram a gente de algum lugar por aqui. Acharam que eu e o outro chapa estávamos trepando!!!

– Então por que não aceitaram a denúncia e fingiram que eram gays?! Melhor estar fodendo do que estar chapado.

– Sei lá, o cara já chegou me apontando uma 38, apaguei a ponta e só esperei pra ver o que acontecia.

– Idiota.

A partir desse momento já passamos a desconfiar de todos no bar, apesar de muitos deles terem vindo nos dar conselhos. É muito estranho quando de uma hora para outra, todos com quem você estava socializando passam a ser suspeitos.

Por um breve momento me senti em Reservoir Dogs, e até imaginamos quem era o cagueta filho da puta. Decidimos cair fora de lá o mais rápido possível, e quando estávamos indo para o carro, temos uma grata surpresa: uma viatura estava fazendo blitz a menos de 20 metros do nosso carro. Obviamente tinham visto que os caras voltaram para o bar, logo teriam mais dinheiro para extorquir, afinal a rua era medíocre, nenhuma viatura estaria lá em circunstâncias normais.

Resolvi voltar para casa a pé, ainda puto com o fato de terem extorquido meus camaradas por nada, já que um baseado não dá cadeia, e nem porra nenhuma.

Acho engraçado como alguém, só por usar uma farda, se sente melhor que os outros ao seu redor, sendo que na verdade, ele não passa de um peão do Estado, que apenas segue cegamente às suas ordens. A proibição da maconha continua, a meu ver, sendo algo extremamente abusivo, mas isso é assunto suficiente para um documentário inteiro.

Vou comer pizza e me virar com o dinheiro que me sobrou, já que com todos roubados, eu tive que arcar com a conta do bar.

o móvel

agosto 12, 2009

Vila Madalena, segunda-feira, 1h30 da madrugada.

Péssima escolha de local, dia e horário. Rodamos metade da cidade em busca de algo para nos entreter, mas nada parecia oferecer algo bom, nem mesmo a boa e velha Rua Augusta. Decidimos parar o carro, parar numa rua qualquer e jogar conversa fora, assim, pelo menos, nós não gastaríamos dinheiro nem gasolina.

Até então a rua estava deserta, mas bastou alguns minutos para um caminhão de mudanças parar ao nosso lado, e já logo de cara eu tentei imaginar quem seria o filho da puta que resolve se mudar a aquela hora da noite.

O tempo passou e eu já não ligava mais para a presença dele, também já não ligava para nada, se me ligassem avisando que minha casa estava em chamas era capaz de eu não me importar. Foi quando eu resolvi fingir dar um soco em um dos camaradas, não faço idéia do por que, mas fingi, e acreditando ser verdade, um deles me alertou para que eu não partisse pra violência gratuita (o que eu costumo fazer quando acordo meio Michael Douglas), e eu respondi com toda a sinceridade do mundo: – Por quê?! A violência é algo natural, não devíamos bloquear tal ímpeto da nossa natureza. É como proibir sexo, alimentação ou até o ato de defecar. Sou a favor da legalização do homicídio.

Reflita sobre isso, e observe como o mundo poderia se tornar melhor dessa forma. É claro que não sairíamos atirando em todos em meio às ruas, semeando o ódio, caos e destruição. Seria algo totalmente ético e organizado, tais como os coffee shops que vendem maconha na Holanda. Só poderíamos matar em locais reservados para tal prática.

Acho que passamos uns dez minutos elaborando o funcionamento da lei.

Olhei para o lado e vi que um dos senhores do caminhão estava vindo em nossa direção, imaginei que ele fosse pedir um trago de um cigarro de palha que um dos nossos estava fumando, e que possivelmente o camarada teria confundido com maconha. Mas não, o pior aconteceu. Pediu-nos ajuda para levar os móveis para o apartamento.

Fomos lá, eu e o cara dos cigarros de palha, e ao ver o que teríamos de carregar já ficamos bastante chateados, afinal era um console antigo ou coisa do tipo, feito de madeira maciça. Com muito esforço erguemos aquela velharia, e levamos para o prédio, onde veio nossa segunda decepção…não havia elevador, seriam seis longos andares (não estou certo de quantos eram, não tive capacidade de contar). Senti que minha vida era um filme dirigido por algum maluco no nível dos irmãos Coen, e então aceitei a situação com bom humor.

O chapa nos ofereceu dez reais pelo favor prestado, que nós recusamos educadamente. Aliás, mesmo em outras circunstâncias e até com a nossa lei aprovada, creio que não mataria aquele cara. Basta olhar diretamente nos olhos da alguém para sentir sua índole, era uma boa pessoa.

Voltei para casa e fiquei pensando sobre o que ele faria se nós não estivéssemos lá, já que todos estariam dormindo e com as ruas desertas, ninguém iria o ajudar. Nossa presença, uma mudança em meio à madrugada, a rua sem saída. Vivemos uma sequência de improbabilidades, e tenho pena de quem vê nelas o aborrecimento ou a chateação. Eu apenas me divirto como se estivesse assistindo à minha própria vida em terceira pessoa.

sozinhos na noite

agosto 5, 2009

Estávamos no ônibus, em alguma região ignorada do Brasil. O rádio não parava de tocar músicas regionais, tais como música gospel e forró local. Era meia noite e já estávamos há mais de 3 horas na estrada, passando por cidadezinhas parecidas com aquelas nas quais Zé do Caixão filmou seus primeiros filmes, onde todas as casas eram iguais e sempre havia uma igreja no centro.

Finalmente paramos em Maragogi, Alagoas. Éramos cinco perdidos na noite, chegamos lá por acaso e não tínhamos onde dormir, nem nada. Saímos em busca de um hotel que pudesse nos acomodar por um preço camarada, mas foi tudo em vão, estavam todos cobrando preços acima do nosso poder. Foi então que avistamos um posto policial, trocamos idéia com os soldados, e eles nos deixaram acampar na praia. Só não entendi o por que de um deles ficar insistindo que essa era a cidade que mais recebia turistas no país inteiro, e em mais um monte de asneiras típicas de quem tem síndrome de inferioridade, como os caipiras que se gabam por existir um shopping Center ou um Mc Donald’s em sua cidade.

Fomos discutir na rua o que faríamos quando um dos nossos pensou: – Mas que merda é essa? Vamos acampar sendo vigiados pelos coxas a noite toda? Nem fodendo. – A orla da praia é razoavelmente movimentada, se nos afastarmos muito do posto, é capaz de acordarmos sem nada, cara.

Decidimos bater de porta em porta à procura de uma boa alma para nos hospedar. Bem na primeira tentativa, de uma casa com uma grande varanda, um homem razoavelmente gordo apareceu desconfiado pela porta e nos questionou sobre o que queríamos, quem éramos e tudo mais.

Depois de alguns minutos de conversa, ele ficou convencido de que se tratava apenas de cinco jovens mochileiros de boa índole. Pela sua janela, avistamos algumas meninas e um cara, que provavelmente eram seus filhos, e também sua mulher. Nenhum deles saiu de casa, a não ser o chapa gordo.

Ele se chamava Ruy, e deixou que nós armássemos nossas barracas, então saímos de lá para dar uma volta na praia. Voltamos e dormimos.

Acordamos com uma chuva filha da puta, que molhou tudo o que deixamos para secar no dia anterior. Fiquei bastante irritado com isso, mas logo que Ruy chegou para nos dar bom dia voltei a ficar feliz, ele trazia cachaça, peixe frito e caldinho de feijão para todos nós.

Sentamos com ele na varanda e passamos horas conversando sobre música, nossas vidas, e a sua aventura pela América, na qual seu pai havia apenas lhe dado a passagem de ida, e foi trabalhando por lá, ao melhor estilo Kerouac, que ele se virou para conseguir voltar.

Mesmo após termos conquistado sua confiança, nenhum outro membro da família saiu para nos conhecer. Talvez ele estivesse com a impressão de que nós tentaríamos comer suas filhas; e realmente talvez nós tentássemos, mas esse não era o problema.

Parece-me que hoje é muito difícil se relacionar com alguém totalmente estranho. Só se criam amizades, relacionamentos, o que for, quando estamos em ambientes propícios, tais como balada, festa, turma da sala, churrasco, etc, mas muito raramente elas nascem espontaneamente, em qualquer lugar, por total acaso.

Enfim, pé na estrada novamente.